Se imagine em uma entrevista de emprego onde o entrevistador te lança uma pergunta decisiva. Você escuta com cuidado e pensa: “putz! Logo sobre esse assunto… não tenho certeza se saberei responder!”.
E agora? Diante dessa situação, o que você faz?
Com toda certeza você vai elaborar uma resposta mirabolante cheia de argumentos incertos e fantasiosos na sua cabeça, e depois soltá-la com aquele linguajar maroto fingindo ser técnico o suficiente para demonstrar um domínio admirável num assunto que você mal conhece.
Vai me dizer que não?
Tá bom, então por que não dizer simplesmente um “não sei”?Ora, isso seria considerado um ultraje! Sabemos com toda certeza que a incerteza nessa situação iria gerar algum tipo de punição.
Nesta sala imaginada, imagino que haja um enorme clima de pressão para que se tenha um elevado grau de confiança em tudo aquilo que é dito — você não tem o direito de titubear, caso contrário volta para casa sem janta.
Mas será que esse climinha gostoso só acontece nesta sala imaginada?
A cada esquina que passa você encontra um novo especialista
Hoje vivemos na era da informação, portanto dizer que se sabe sobre algo é de extrema importância para se manter relevante na sociedade, mesmo que você não tenha muita certeza sobre aquilo que está dizendo saber — o importante é dizer e dizer com convicção.
E não se engane pensando que isso se limita somente à esfera empresarial — tente conversar com o seu tio Cláudio sobre política. Com toda certeza ele vai te apresentar “fatos”, “provas” e “evidências” de que o ponto de vista dele é o certo, se revelando, na verdade, um grande especialista em economia (mesmo sendo dono de uma pequena padaria).
As autoridades de podcast
Certa vez, assistindo um desses podcasts da vida, fiquei encantado com as ideias de um convidado. Ele falava de uma forma tão erudita e tão carismática, soltava referências a grandes autores consagrados e ainda fazia ótimas analogias que transformavam um assunto tão complexo em algo muito simples de se entender.
E claro, tinha muita convicção naquilo que apresentava e não demonstrava nem se quer um grau de incerteza ao explanar os seus brilhantes pensamentos — era um especialista, é claro, uma autoridade.
Tenho certeza que você já deve ter ouvido falar dele. Ele está sempre aparecendo nesses podcasts. Seu nome é… Certezo.As pseudoautoridades de podcast
Com o tempo, porém, fui me desencantando com Certezo. Ele tinha suas falhas.
As referências a grandes autores consagrados que ele costuma fazer são, na verdade, citações distorcidas encaixadas fora de contexto.
As suas ótimas analogias realmente transformam um assunto tão complexo em algo muito simples, o problema é que um assunto tão complexo não pode ser reduzido a algo tão simples.
Certezo, na verdade, propaga mentiras com muita convicção. Certezo, dá saltos lógicos em suas explicações para concluir assuntos complexos que há muito tempo se mantiveram sem conclusão.
O pior… Certezo, mesmo com todas essas falhas, ainda possui milhões de seguidores e ganha muito dinheiro vendendo seus cursos.
A arma social usada para subir degraus
O que mais se vê hoje em dia são Certezos que criam uma teia de falsidades habilmente tecida, apresentada com um sorriso convincente e que se auto proclamam autoridades em determinado assunto. A consequência desconcertante disso é o surgimento de seguidores fervorosos, ávidos por uma verdade que nunca existiu.
Nesta sociedade que valoriza demais a confiança e a assertividade, admitir um "não sei" quase sempre é visto como fraqueza, porém fingir certeza não pode ser normalizado a ponto de se tornar uma arma para aqueles que querem, a todo custo, subir degraus sociais.
É bom ter o mínimo de humildade intelectual e admitir que podemos estar errado, até porque o nosso conhecimento é limitado, independente do tamanho dele.Uma escolha a ser feita
A incerteza é amiga. Ela nos provoca a questionar e nos faz buscar novos conhecimentos para olhar as coisas por uma nova perspectiva.
A certeza limita. Ela tem o poder de nos cegar e nos fazer buscar fantasias para continuar a mantendo viva.
De toda forma, temos uma escolha: viver de certezas ou incertezas?
Para mim, aquele que certeza possui não é diferente de um copo cheio que não tem espaço para mais nada.Acho que poderíamos valorizar um pouco mais os Incertezos que levantam dúvidas a fim de construir sabedoria diante de tanta (des)informação disponível.
Mas a escolha é sua...
E aí, o que achou do assunto? Me manda uma DM lá no Instagram e me conta qual é a sua opinião :)